A importância do Urbanismo Tático em ações nas favelas

11 de junho de 2023

O urbanismo tático é uma ferramenta de transformação territorial para o planejamento de projetos e/ou ideias que necessitam ser executadas a curto prazo, com materiais de baixo custo. As intervenções envolvem a participação popular nas tomadas de decisões e nas ações que são realizadas, o que é de extrema importância para que se possa conciliar as demandas e desejos da sociedade com as necessidades de interesse público, favorecendo-se, inclusive, a transparência e a disponibilização de informações. 

Cria mecanismos que valorizam a cultura e identidade local de um território, bem como fortalece laços comunitários e conscientiza a população frente às questões de interesse coletivo, possibilitando bairros mais dignos como se verá a seguir.

No dia 28 de julho de 2018, aconteceu o II Festival Fazendinhando, com o apoio de pequenas contribuições dos voluntários e familiares atuantes no projeto, com o objetivo de realizarem mais atividades e ter um maior engajamento da comunidade, celebrando a cultura nordestina por meio de um arraial.

Na rua paralela ao parque Fazendinha, ocorre a oficina “Aqui passa um rio” realizada com base no conceito do urbanismo tático, a fim de se motivar a população a repensar seus hábitos, promover a sensibilização ambiental para reconhecer a importância do córrego limpo, que possui sua nascente na comunidade e manifestar a ausência do poder público, que naquele período ainda não tinha dado andamento nas obras de urbanização do Jardim Colombo.

A oficina foi a primeira a acontecer no dia do evento, a rua foi fechada e os limites delimitados para receber a pintura. As crianças receberam pincéis de diversos tamanhos e os voluntários misturaram as tintas azuis para possibilitar outras tonalidades. Naquele momento, muitos adultos pararam para ver o que estava acontecendo, enquanto a líder do projeto Fazendinhando explicava a história do córrego Itararé e fortalecia a conscientização envolvendo as crianças com perguntas e simples relatos.

Obteve-se como resultado final um inusitado mosaico, despertando o interesse e curiosidade de moradores e transeuntes. Uma intervenção de curto prazo e baixo custo que se mostrou eficiente para valorizar a arte como elemento de melhoria da qualidade dos espaços públicos, bem como uma estratégia para catalisar uma mudança a longo prazo e proporcionar o fortalecimento da identidade local.

As ações também ressaltam a importância da água, que durante as entrevistas e rodas de conversas realizadas na comunidade entre 2018 e 2019 com os moradores, foi considerada como tema relevante. Para os moradores mais antigos, a água remete a memórias e lembranças de um passado do rio Itararé limpo, dos percursos realizados para pegarem água, dos poços artesianos, dos encontros nestes caminhos, das relações e amizades.

Já para as crianças, o desejo de terem a água como elemento para as suas brincadeiras, é grande. Nota-se também o fato de sempre brincarem no verão com mangueiras, baldes cheios de água improvisando uma piscina, nas lajes com as caixas d’água ou até mesmo nas poças de lama derivadas da chuva.

Na APP do Córrego Itararé, nota-se que nem o proprietário e nem o Poder Público têm assumido a responsabilidade pela recuperação dessas áreas. O córrego desde a sua nascente, apresenta elevado grau de degradação ambiental, como consequência, ocasiona- se problemas de poluição do ar, do solo e das águas, perda de diversidade biológica, habitações em áreas de risco, dentre outros, que ameaçam a qualidade de vida da população.

Recentemente na comunidade do Jardim Colombo, os moradores por iniciativa própria começaram a inserir placas escritas: “Proibido jogar lixo” ao redor do Córrego Itararé, no Setor 4. Percebe-se que o que está acontecendo na Fazendinha, causa um efeito positivo, de tal maneira que a preocupação com o espaço livre urbano é maior e a população quer zelar por ele.

A utilização de técnicas simples e de baixo custo para alertar, comunicar e envolver a população nas ações, por meio do Urbanismo Tático, têm sido cada dia mais frequentes, respondendo a questões urgentes, demonstrando novas alternativas dos cidadãos, em face a processos demorados do poder público. A solução sem dúvida é a busca de equilíbrio entre essas atividades e aqueles que vivem no local, porém isso só será possível, quando as políticas públicas se aproximarem dessas realidades locais.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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