Avaliando a eficiência das cidades em conectar seus habitantes às oportunidades de emprego

25 de junho de 2024

Em colunas anteriores, discutimos como monitorar objetivamente o desempenho urbano com base em dados de habitação, trabalho e vegetação. Agora, a esse conjunto adicionamos uma nova análise realizada para o tema da mobilidade urbana, publicada na página de indicadores do Instituto Cidades Responsivas para as cidades de Curitiba, Belo Horizonte, Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro.

O estudo buscou avaliar a mobilidade do ponto de vista da acessibilidade urbana, ou seja, a eficiência com que os habitantes são conectados aos serviços e oportunidades da cidade. Partindo de conceitos estabelecidos pela pesquisa Acesso a Oportunidades, realizada pelo IPEA, nossa análise verificou o tempo médio necessário em uma viagem de carro para que os habitantes alcancem uma quantidade de empregos equivalente à metade da população economicamente ativa do município. Os resultados obtidos estão ilustrados abaixo.

Imagem: Cidades Responsivas

Foram utilizadas apenas as viagens por carro, ao invés de se considerar múltiplos modais de transporte, para simplificar a operacionalização da pesquisa. Já o parâmetro da população economicamente ativa foi utilizado para que os resultados considerassem a competição por empregos em cada localidade, visto que o fato de um lugar possuir rápido acesso a 100 postos de trabalho possui diferentes significados se há 100 pessoas disponíveis para ocupá-los ou se há 1.000 pessoas.

Os resultados – complementados pelos mapas das figuras abaixo – mostram a influência da forma urbana no funcionamento das cidades. Florianópolis, que possui cerca de 500 mil habitantes, tem tempo médio de deslocamento maior que as cidades de Curitiba e Belo Horizonte, ambas com mais de 1,5 milhões de habitantes. Em parte, isso se deve à fragmentação espacial da capital catarinense, cuja área central está afastada dos núcleos urbanos do norte e do leste da cidade, conectada a eles por poucas opções viárias. Por outro lado, Curitiba e Belo Horizonte possuem forma mais radial, facilitando que o sistema de mobilidade realize a ligação entre centro e áreas periféricas.

Imagem: Cidades Responsivas

São Paulo e Rio de Janeiro apresentam tempos médios de deslocamento maiores do que as outras três cidades, o que está relacionado com o fato de suas maiores extensões exigirem viagens de carro mais longas entre as diferentes partes das cidades. Mas, comparando as duas cidades, nota-se que, enquanto a capital carioca tem seu Centro deslocado para a direção leste, distante das áreas de seu extremo oeste, São Paulo possui forma relativamente mais radial – similar a Curitiba e Belo Horizonte. Essa diferença de configuração, somada à eficiência do sistema de transporte de ambas as cidades, contribui para explicar os menores tempos médios observados na capital paulista.

Imagem: Cidades Responsivas

Para o futuro, além de se considerar outras formas de deslocamento – como o transporte público e cicloviário – pretende-se verificar o efeito causado pelas oportunidades de empregos situadas nas cidades vizinhas. Mesmo assim, a análise apresentada serve como demonstrativo de que, além da própria infraestrutura de mobilidade e transporte, a conexão entre pessoas e empregos depende da forma urbana e, portanto, da distribuição de densidades e usos do solo permitidas pelos instrumentos de planejamento, como os planos diretores. Sendo assim, planejar o crescimento urbano de um município configura uma das formas de tornar mais eficiente seu sistema de mobilidade. 

Guilherme Dalcin

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Núcleo de ensino, pesquisa e difusão de conhecimento com foco em arquitetura, tecnologia e economia urbana. (luciana@responsivecities.com)
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