Orlas e desenvolvimento urbano

13 de junho de 2024

Em meio aos debates sobre orlas e desenvolvimento urbano no Brasil, resolvi escrever esta coluna sobre projetos de arquitetura e urbanismo na costa que são um exemplo fascinante de como o planejamento cuidadoso e o design inovador podem transformar áreas litorâneas em destinos vibrantes e sustentáveis. Vejamos alguns exemplos notáveis ao redor do mundo que destacam as melhores práticas e os sucessos alcançados.

Após sediar os Jogos Olímpicos de 1992, Barcelona passou por uma transformação significativa, especialmente em sua área costeira. O projeto de renovação urbana conhecido como “Nova Icaria” foi fundamental para revitalizar a área portuária e transformar a orla da cidade. Antes dos Jogos, a costa era uma zona industrial degradada. Hoje, é um dos principais pontos turísticos, com praias, marinas, restaurantes e áreas de lazer. A integração de espaços verdes, a acessibilidade e a conectividade urbana foram essenciais para o sucesso desse projeto.

A requalificação da área de Darling Harbour em Sydney, Austrália,  é um exemplo impressionante de revitalização urbana costeira. Originalmente uma área industrial, Darling Harbour foi transformado em um vibrante centro de entretenimento, lazer e cultura. O projeto incluiu a construção de espaços públicos, como o Tumbalong Park, museus, aquários e centros de convenções. A harmonização entre o ambiente construído e a paisagem natural, junto com um forte foco na sustentabilidade, contribuíram para o sucesso desse empreendimento.

O V&A Waterfront em Cape Town, África do Sul, é outro exemplo de requalificação bem-sucedida. Essa área, anteriormente um porto industrial, foi transformada em um complexo multifuncional que combina comércio, entretenimento, habitação e cultura. O projeto não apenas revitalizou a economia local, mas também preservou elementos históricos, criando um equilíbrio entre o antigo e o novo. A abordagem inclusiva, que envolveu a comunidade local, foi crucial para a aceitação e o sucesso do projeto.

Miami Beach, na Flórida, é conhecida por sua arquitetura art déco e suas praias com bastante vitalidade, mas também serve como um exemplo de urbanismo costeiro adaptativo. O projeto de elevação de ruas e a instalação de sistemas de drenagem avançados foram respostas inovadoras aos desafios impostos pela elevação do nível do mar. A cidade investiu em infraestrutura resiliente, ao mesmo tempo em que promoveu o desenvolvimento sustentável, assegurando que Miami Beach continuasse a ser um destino popular e seguro para moradores e turistas.

Lisboa tem trabalhado intensamente na requalificação de sua frente ribeirinha. O Cais do Sodré e a Ribeira das Naus são exemplos disso. Essas áreas, anteriormente subutilizadas, foram transformadas em espaços públicos dinâmicos que conectam a cidade ao rio Tejo. O projeto incluiu a criação de parques, passeios e ciclovias, além de instalações culturais e comerciais. A integração da vida urbana com o ambiente aquático foi essencial para revitalizar essas áreas e promover o turismo e a qualidade de vida dos moradores.

Os projetos de arquitetura e urbanismo na costa que deram certo compartilham alguns elementos-chave: planejamento cuidadoso, foco na sustentabilidade, envolvimento da comunidade e uma abordagem holística que integra o ambiente natural e construído. Esses exemplos demonstram que, com a visão certa, é possível transformar áreas costeiras em destinos prósperos, resilientes e agradáveis para todos. A lição aqui é que o sucesso desses projetos depende não apenas do design arquitetônico, mas também de políticas urbanas inclusivas e sustentáveis que atendam às necessidades presentes e futuras.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e urbansita, especialista em Gestão de Projetos e mestre em arquitetura pela UFRN. Atualmente é sócia da PSA Arquitetura em São Paulo e da PYPA Urbanismo & Desenvolvimento Urbano em Natal-RN. (sophia.motta@psa.arq.br)
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