(R)evolução São Paulo nas Alturas

26 de junho de 2024

A palavra “revolução” vem de um ato transitivo de “transformar”, radicalmente, algo por completo, seja para algo totalmente novo ou “dar a volta” para algo que já existiu no passado. Já “evolução” também é um estado transitivo de “transformação”, porém pelo acúmulo de “mudanças” ao longo do tempo, procurando se “adaptar” às novas situações encontradas.

Nesse sentido, o livro “São Paulo nas Alturas”, do jornalista e amante da arquitetura Raul Juste Lores, vem (r)evolucionando os edifícios construídos pelo mercado imobiliário nos últimos anos. Lançado em meados de 2017, agora na segunda edição, é certamente um dos livros mais lidos sobre arquitetura brasileira neste século. O livro de Juste Lores virou “bíblia” entre os arquitetos brasileiros, assim como os livros “Cidades para Pessoas” de Jan Gehl e “Morte e Vida de Grandes Cidades” de Jane Jacobs. 

De uma maneira fácil e clara, Raul conta a história de um mercado imobiliário pujante nos anos 50 e 60, no auge da escola moderna de arquitetura no Brasil. Um dos períodos mais emblemáticos da produção de uma arquitetura com um toque de brasilidade, ou seja, uma identidade própria brasileira. 

Os arquitetos de renome nacional e imigrantes eram contratados por incorporadoras para projetar edificações, seja de moradia ou escritório, reinterpretando soluções adotadas em outras épocas da arquitetura nacional para soluções modernas. Vide os brises-soleil, cobogós, abas, curvas, terraços e paredes de azulejos como obras de arte.

Nesses setes anos passados desde o lançamento da primeira edição do livro, parece que arquitetos, desenvolvedores, incorporadores e o público geral entenderam o recado. Há uma nítida (r)evolução nos empreendimentos lançados desde então com esse toque de “brasilidade”, porém, agora, contemporânea. Isso é muito bom! Claro, ainda existem as exceções (imitações) de sempre, mas a onda, por exemplo, dos neoclássicos, diminuiu drasticamente. 

É preciso ser demonstrado que possuímos uma identidade própria. Não tem porque imitar o de fora, nossa arquitetura é rica e bela e possui totais condições de se adaptar ao clima e cultura do Brasil. Chega de peles de vidro, Dubai e estilos “automotivos”… Precisamos focar na nossa “brasilidade”! 

Uma “brasilidade” que será distinta nas cinco regiões do país, cada uma com a sua particularidade específica, mas que no conjunto se note uma identidade brasileira praticada. 

Apesar dessa (r)evolução em curso, há um ponto de crítica: os desenvolvedores desses novos edifícios com esse toque de arquitetura brasileira precisam entender que os elementos que dão esse tom característico possuem funções específicas e não são meros objetos de decoração de fachada. 

O próximo passo é entender que para um brise possuir a funcionalidade de elemento de proteção solar, deverá ser diferenciado em cada fachada de orientação solar distinta e, muitas vezes, não ter só uma folha quando há uma enorme janela para proteger. Outro exemplo: abas terão certas dimensões para realmente projetar sombra no ambiente. Esse entendimento existia no passado, falta incorporá-lo no presente.

Parabéns, Raul! O teu livro tem conseguido demonstrar a beleza de nossa arquitetura para TODOS, não apenas para bolha de arquitetos, o que era muito guardado nas faculdades de arquitetura e pouco compreendido. Obrigado!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Mestre em Arquitetura e urbanismo (Uniritter/Mackenzie); Doutorando em arquitetura (PROPAR/UFRGS); Membro do Council on Tall Building and Urban Habitat (CTBUH). (luishbv@gmail.com)
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